A educação do sentido estético

A educação do sentido estético

Pe. Antonio Royo Marin, OP

Uma educação cristã integral há de ser muito humana e muito divina ao mesmo tempo. Precisamente, a graça não destrói a natureza, mas a eleva e a aperfeiçoa e, através do humano, podemos e devemos nos elevar até Deus, autor da natureza e da graça.

Entre os elementos da formação psicológica das crianças, não devemos ignorar um daqueles que podem elevá-las mais até Deus, devidamente canalizado. Nos referimos à educação do sentido estético e do amor ao belo. No fim das contas, todas as belezas criadas não são nada além de esboços e ressonâncias analógicas da infinita e eterna Beleza, que é o próprio Deus.

Vamos, pois, indicar – embora muito brevemente – algumas idéias fundamentais em torno da educação do sentido estético das crianças e do amor ao belo.

1. O SENTIMENTO ESTÉTICO

O amor ao belo ou sentimento estético consiste na alegria que se experimenta na presença das obras da natureza ou das obras-primas da arte.

A alegria estética é doce, pacífica e desinteressada. Não tem baixezas. É, por sua vez, sensível, intelectual, intuitiva e radicalmente oposta ao prazer sensual que nos rodeia por todas as partes.

A cultura estética desperta na criança nobres sentimentos.

Opõe-se à utilidade e ao egoísmo. Moralmente podemos, pois, dizer que é boa.

Não se vê a beleza sem levantar os olhos. Não se serve a beleza sem elevar-se acima do mal, sem espiritualizar-se. (P. Ponsard)

A cultura estética eleva e enobrece o ideal, dando-nos o gosto pelo perfeito e acabado. Nos leva, sem esforço, para o sentimento religioso:

A alma que contempla, adora. Descobre a Deus no cintilar das estrelas, nos caminhos prateados que a lua desenha nas ondas do mar, nas nuvens do firmamento, na voz potente do oceano, no sorriso e no murmúrio de uma corrente cristalina e no balanço dos álamos. Ele encontra-o na beleza porque Deus é beleza. (P. Ponsard)

São João da Cruz – o sublime místico de Fontiveros – se extasiava diante da contemplação de uma fontezinha, de um pôr do sol, de uma noite serena, de um “prado, de flores esmaltadas”. A beleza criada lhe elevava até Deus.

A formação estética é sumamente benéfica: moraliza e eleva a alma. Entre o belo e o bom existem diferenças – sem dúvida alguma -, mas também profundas analogias. “A aspiração viva e pura para o belo – diz Schiller – sempre traz consigo costumes honestos”.

Na sociedade produz também efeitos saudáveis: é o laço de união dos espíritos em uma vida comum e fraternal.

2. O BELO

O belo é o resplendor do verdadeiro e do bom. Pode distinguir-se a beleza física, que reside na matéria e consiste em ordem, força e grandeza; a beleza sensível, que reside no animal e na planta, consiste na manifestação esplêndida da vida; e a beleza intelectual e moral, que reside no homem e se manifesta no rosto – espelho da alma -, na palavra e nesses atos que denotam um grande coração e uma grandeza de alma.

A beleza das criaturas é relativa. É uma imagem e ressonância distante da Beleza incriada, que é Deus; e é tanto mais perfeita quanto mais se assemelha a Ele.

A beleza produz, naquele que a contempla, um encanto e um arrebatamento que não tem nada de sensual. Enobrece ao homem a seus próprios olhos, avivando nele o amor ao perfeito.

3. O SUBLIME

O sublime representa o grau mais perfeito do belo. Nos sugere a ideia da grandeza, da proporção e da harmonia, mas também envolve algo violento, mesclando-se com uma espécie de desordem e comoção. Provoca a admiração e, com frequência, o temor e até um verdadeiro espanto. Recorde-se, por exemplo, da sublime beleza das ondas encrespadas do mar em plena tempestade, açoitando com fúria e estrondo o penhasco da costa e levantando uma montanha de espumas.

4. EDUCAÇÃO DO GOSTO ESTÉTICO

O gosto estético é a disposição do espírito que nos adverte à beleza ou à imperfeição das coisas, a conveniência ou inconveniência das palavras e ações. É algo inato e instintivo, mas pode extraviar-se se não tiver recebido uma formação racional. Se repete com frequência que “de gostos e cores não há o que discutir”. É um equívoco, posto que existe um bom gosto e um mal gosto, sendo necessário formar o gosto das crianças.

Essa formação começa na família, infundindo na criança o amor à ordem, à limpeza, à simplicidade e à harmonia. Nisso nada é capaz de substituir a influência da mãe.

O amor da mãe, seu sorriso, seus gestos chamarão a atenção da criança sobre a beleza das palavras que ouve e das ações que vê. (P. Ponsard)

Essa formação continua na escola, por ordem externa e porque contribui para o cultivo do espírito e do coração. Alguns exercícios escolares servem diretamente para a formação do bom gosto: o desenho, o canto, a leitura expressiva, os estudos literários e a música instrumental. Podem se indicar também a visita aos museus e a reprodução conveniente de obras célebres de pintura, escultura e arquitetura.

A educação do bom gosto não seria completa se não cuidássemos de afastar a criança da feiura, do exagero, da deformidade ou afetação que vem a ser como outras tantas formas da mentira.

5. INCITAR NA CRIANÇA O SENTIMENTO DO BELO

Em primeiro lugar, a criança deve encontrar em seu próprio lar hábitos de ordem e de bom gosto. Nada contribui tanto, por outro lado, para afeiçoa-los ao lar e fazer com que se sintam confortáveis nele.

As crianças gostam de belas paisagens, árvores, flores e pássaros. As maravilhas do reino vegetal e do reino animal lhes causam profundas emoções. Facilitemos-lhes a ocasião de se alegrar de belos espetáculos: montanhas, picos cobertos de neve, planícies, lagos, rios, selvas, campos cobertos de trigos dourados, verdes prados, pôr do sol etc. Façamos com que visitem monumentos históricos, célebres ruínas, recordando-lhes, ao mesmo tempo, das lendas e recordações que evocam.

6. A BELEZA MORAL

Iniciemos as crianças na beleza moral com a finalidade de que se simpatizem com ela. Falemos, com frequência, dos atos que reúnam o cumprimento do dever a algo grande e sublime. Citemos os exemplos heroicos que nos deram os mártires e os santos da religião, os sábios na ciência e os heróis que atuaram pelo bem da pátria. Com isso semearemos em suas almas os germes de belas e nobres ações.

A contemplação inteligente e a admiração fundamentada da ordem e da harmonia derramados na criação, dispõem a alma para amar em tudo a ordem e a harmonia: infundem sentimentos de agradecimento e amor para com o Criador de tantas belezas. A arte predispõe ao sentimento religioso. (Pellissier)


FONTE:

ROYO MARIN, Antonio. A educação dos filhos. São José dos Campos: Katechesis, 2022. p. 177-181.

Prof. Thiago Plaça Teixeira

O Professor Thiago Plaça Teixeira é Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná, Bacharel em Piano pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Mestre e Doutor em Música pela Universidade Federal do Paraná. Foi premiado em concursos de piano e atuou com diversos instrumentistas, cantores e grupos corais em concertos, óperas, festivais e séries de música de câmara. Trabalhou em instituições de ensino superior no Paraná ministrando disciplinas teóricas e práticas. Como pesquisador, direciona seus estudos à música sacra católica, área em que também tem experiência prática atuando como organista.

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